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terça-feira, 21 de maio de 2013

Escolhas e Decisões (Revista Aurora -Artigo)

Escolhas e decisões
(Uma abordagem)
Frequentemente nas entrevistas clínicas, em meu consultório de psicologia, as pessoas se queixam das escolhas erradas que fizeram ou das decisões tomadas que tiveram consequências dramáticas. 
Parece que os transtornos psíquicos decorrentes de escolhas e decisões equivocadas, podem causar
sentimento de culpa e descompensação de energia física e espiritual e enquanto perdurar esse sentimento de culpa o estado físico estará cada vez mais comprometido. O corpo então começa a apresentar sinais de somatização oscilando de simples resfriado ou coceiras, às mais severas e complexas psicopatologias.
A frustração experimentada no curso dos episódios, pode causar um mal maior do que o fato propriamente dito.
Utilizando técnicas regressivas, (1) deparei-me com inúmeras estórias vivenciadas pelas pessoas em estado modificado de consciência EMC, (2) que indicaram uma conduta de comportamento inadequada dos seus personagens, frente as escolhas/decisões, quando comparada com a vida atual. 
Nota-se uma significativa tendência na vida presente de repetição de hábitos, costumes e valores aprendidos e praticados nas vivências anteriores, como forma de solução para as situações do cotidiano. Possivelmente
reeditam esse comportamento por assim se sentirem seguras (zona de conforto).
A similaridade dos sentimentos e emoções manifestados pelos queixantes na cantilena: nada dá certo, não tenho sorte, os outros não me compreendem, parece que o mundo desabou na minha cabeça, tudo que faço dá errado, só acontece comigo..., denuncia um perfil de caráter rígido, controlador, levando ao extremo conceitos previamente concebidos que se transformaram em postulados de caráter, inconscientemente
exteriorizados. 
São resquícios de personagens de vida passada, que acreditaram ser esta a melhor maneira de agir e
conduzir suas escolhas e decisões, pois foi assim que “deu certo”, segundo a sua percepção.
Importante considerar que no curso da vida atual, não somos mais aqueles personagens de outrora, e precisamos nos adequar as situações problema que se nos apresentam aqui e agora, porque enquanto perdurar em nossa organização psíquica esses resíduos, tendemos a repetir os mesmos equívocos.
Dentre inúmeras maneiras de promover o escoamento dessas energias potencializadas, o “autoperdão”surge como agente libertador das culpas, e por conseguinte, da alma.
Os personagens que vivenciamos, não devem ser condenados ao sofrimento eterno. Após identificá-los, passamos a ter para com eles a responsabilidade de suas condutas diante de nós mesmos e para com os outros, não tendo mais o direito de usar os mecanismos de fuga, alegando desconhecermos as causas do
nosso desajuste. Novos equívocos gerariam novas culpas e assim estaríamos repetindo tudo de novo. Inúmeras vezes, criamos monstros e algozes internos e os carregamos como pesados fardos, por várias encarnações, acreditando ser esse o “destino cruel, o preço que se paga pela reencarnação, ou, um castigo divino”. Perdoar aos nossos personagens pelas escolhas e decisões equivocadas é perdoar a nós mesmos. “Perdoando, igualmente se emancipa o homem, descomprometendo-se ante a Lei de Causa e Efeito”. (3).
A proposta deste artigo é convidar você leitor, a aplicação do perdão e o autoperdão como recurso terapêutico das nossas almas. Utilizado com seriedade poderá tornar-se remédio curador. Não tem contra indicação e deve ser usado sem moderação.  Lembrando Paulo, o Apóstolo, “O verdadeiro perdão, o perdão cristão, é aquele que lança um véu sobre o passado. É o único que vos será levado em conta, pois Deus não se contenta com as aparências: sonda o fundo dos corações e os mais secretos pensamentos, e não se satisfaz com palavras e simples fingimentos... Não esqueçais que o verdadeiro perdão se reconhece pelos atos, muito mais que pelas palavras.” (4).
São incontáveis as personalidades notáveis que passaram pela Terra e fizeram uso do perdão e do autoperdão para libertar e se autolibertarem. Nos Evangelhos, encontramos Jesus de Nazaré, o Mestre dos mestres, dando sua contribuição a toda a humanidade, no momento da crucificação: “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem!”.
São Francisco de Assis assevera em sua prece: “... É perdoando que somos perdoados”.
Gandhi, num ato sublime de não violência, perdoa aos Ingleses, libertando a India.
Joanna Darc, antes de ser morta na fogueira, perdoa seus verdugos e a França torna-se livre.
Sócrates, condenado a beber sicuta, fez humor com aqueles que o julgaram, perdoando-os porque eles não o compreenderam.
Penso que o Autoperdão não é privilégio dos sábios. Parece que ao nos esforçarmos para entender e compreender os nossos sentimentos, estamos construindo o caminho da autolibertação.
No dizer do Dr. Bezerra de Menezes,
“Ainda devemos considerar que cristalizações de longo período, no inconsciente, não podem ser arrancadas com algumas palavras e induções psicológicas de breve duração. Neste setor, além dos muitos cuidados exigíveis, o tempo é fator de alto significado, para os resultados salutares que se desejam alcançar.” (5)
Ao buscar respostas para inevitáveis questionamentos, é prudente fazer uma reflexão mais acuidada do comportamento e das atitudes diante dos fatos que causam desconforto e desequilíbrio emocional. 
Vale lembrar que vida passada pode ser o que aconteceu ontem ou até mesmo há um minuto. Tudo o que não estiver confortável poderá ser ressignificado e transformado com o exercício do autoperdão, resultando em breve tempo modificação das vibrações psíquicas, e aos poucos, o equilíbrio desejado.
 Ora! Se não somos capazes de nos perdoar, como poderemos pedir ou receber o perdão dos outros ao cometermos nossos deslizes?
Muita Paz!
Arleir Bellieny.

(Psicólogo e Expositor Espírita –
Membro fundador da AME - RIO).
(1) Netherton, Morris – Past lives therapy -
São Paulo: Sumus, 1997.
(2) Grof, Stanislav - Além do Cérebro – Mac
Graw – Hill – Brasil, 1987.
(3) Bacellis, Carlos -Esperança e Vida, Espí-
rito Odilon Fernandes.
(4) Paulo, Apóstolo. Lyon, 1861. Evangelho
Segundo o Espiritismo – Allan Kardec – Trad.
Herculano Pires.
(5) Menezes, Bezerra de - Loucura e Obsessão - 1ª edição FEB, pág. 91- Manuel Philomeno de Miranda.

(Artigo publicado na Revista Aurora Ano XXXIII - número 120/2013)

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